Cuidado: Você Pode Não Ser Uma Vítima!

por Filipe Aguiar Dutra
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Todos sabemos das dificuldades inerentes a um relacionamento duradouro: O outro é bagunceiro demais, ou organizado demais, ou só chega atrasado em todos os eventos, ou é obsessivo em cumprir horários, ou é antissocial, ou não consegue ficar um dia sem ir para rua conversar com algum amigo, e por aí vai... Resumindo: O problema do relacionamento é o Outro. Sempre.
O engraçado disso (e as vezes o que nos deixa mais bravos ainda) é que o Outro acha normal ser quem ele é. Ele gosta de ser assim. Ele não quer mudar. Como pode? Como ele ousa ser oposto a mim e achar tudo bem? Para piorar a situação, tenho uma notícia para você. Pasme: O problema do Outro é você! Sim, você, que acha tudo bem ser quem você é, que gosta de ser assim e não vê motivos para ser diferente.
Essa situação, apesar de complexa, é bastante real. Um é o problema do outro e isso dá num empate. Zero a zero. E agora? Como fazer para puxar a brasa para o meu lado? Eu entendi o problema mas continuo querendo que as coisas se resolvam da minha maneira. É aí que entra em ação um comportamento muito comum: A Vítima. Se eu for uma vítima da situação, se eu sofrer mais que o Outro, talvez ele tenha pena. Se eu deixar bem claro que ele é o responsável pelo meu sofrimento, conseguirei o que quero. Problema resolvido. Certo?
Errado. Tanto porque o Outro muitas vezes não se submete ao nosso sofrimento e, principalmente, porque sofrimento é sofrimento de qualquer jeito. Sempre será um preço muito alto a pagar. Ainda que você tenha certeza que o Outro é que está errado. Sofrer sempre será uma desvantagem, tanto estando “certo” quanto querendo usar dele para causar remorso no Outro. Se você se permite sofrer (sim, você tem que se permitir isso), estará em desvantagem sempre.
A saída para esse impasse é abrir mão de machucar o outro com seu sofrimento. Ainda que a solução não seja 100% do jeito que você quer, sempre há maneiras de conciliar impasses de forma madura. Sem sofrimento. Para isso, devemos usar da auto-responsabilidade. E permitir que o Outro também seja responsável por ele mesmo. Se respeitarmos essa lei da natureza, conseguimos não sofrer. Se nos portamos como adultos e responsáveis por nossos sentimentos e escolhas, conseguimos abrir mão da necessidade egoísta de machucar o Outro para provarmos que estamos certos. Não vamos precisar nos sentir culpados porque o Outro sofre e nem nos submeter aos desejos dele para depois “jogar na cara” que ele estava errado. “ Viu? Deixei você chegar na hora que quisesse e fomos os últimos a chegar...que vergonha, estou sofrendo e você é o culpado...”.
O conhecimento de que todos têm o direito de ser quem são e que não conseguimos forçá-lo a ser diferente (você também não quer ser forçado a mudar o que não queira) nos permite encarar qualquer situação sem precisar sofrer além do necessário. Se relacionar é isso, é achar soluções parciais para impasses onde os dois estão certos e errados ao mesmo tempo. E as soluções mais maduras nunca envolvem vitimismo de nenhum dos lados. Anime-se: Você não é uma vítima. Ninguém é. Isso significa que você não precisa sofrer. Boas notícias, afinal.

*Autor: Filipe Aguiar Dutra – Psicólogo clínico formado pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-graduando na Metodologia Pathwork de Transformação Pessoal.

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